J. N. Pinto da Costa




Dois ciclos de uma vida

Jorge Nuno Pinto da Costa alterou profundamente a vida do F.C.Porto, a tal ponto de se poder dizer que há dois períodos na vida secular da colectividade azul e branca: antes e durante a sua presidência. A nível desportivo, desde 1982, o F.C.Porto ganhou mais títulos do que nos 89 anos que antecederam a sua liderança.

Património de imensos títulos e um estádio moderno

Foi operada uma autêntica revolução no F.C.Porto, nas últimas décadas, que teve influência na dimensão desportiva, no ecletismo e no património.
O clube do dragão assumiu a liderança do desporto nacional, intervindo com uma estratégia clara nas modalidades de alto rendimento a que se dedicou. E essa estratégia radica no pensamento de que um clube grande só pode competir para vencer. por isso, e tendo que fazer opções ao nível do seu orçamento, o F.C.Porto optou - além do futebol, motivo principal da sua existência - pelo andebol, basquetebol e hóquei em patins, firmando-se como uma potência.
É impressionante o número de títulos nacionais e internacionais conquistados pelo F.C.Porto sob a presidência de Jorge Nuno Pinto da Costa. Mas não impressiona menos o crescimento patrimonial do clube, que foi valorizando o seu antigo estádio - o Estádio das Antas - para proporcionar melhores receitas nos jogos de futebol, ao mesmo tempo que criava novos campos de treino relvados em terrenos próprios ou negociados. Essa valorização, acrescida à capacidade negocial junto da Câmara Municipal do Porto e de diversas instituições privadas, permitiu ao F.C.Porto entrar no século XXI com um património fabuloso constituído pelo seu estádio - o Estádio do Dragão - avaliado em 25 milhões de contos e a participação de 40% na F.C.Porto, SAD e nas empresas em que a sociedade desportiva corporiza, mas a F.C.Porto Basquetebol, SAD. Ao mesmo tempo que continuava a dispor de diversas instalações arrendadas na cidade, como o Campo da Constituição (para as camadas jovens do clube), o espaço da antiga sede na Praça General Humberto Delgado (ex-Praça do Município) para o bilhar (com condições inovadoras de elevada qualidade), além dos pavilhões gimnodesportivos de Matosinhos, Fânzeres e Santo Tirso, utilizadas pelo basquetebol, hóquei em patins e andebol (actualmente estas modalidades já jogam no Dragão Caixa).
A perda dos pavilhões Afonso Pinto de Magalhães e Américo de Sá, nas Antas, devido à construção do Estádio do Dragão, obrigou a procurar outras infraestruturas para manter ao mais alto nível a actividade nas modalidades colectivas escolhidas para vencer títulos nacionais, originando uma metropolização do F.C.Porto; ou seja: ao passar a ter sede de actividade em Vila Nova de Gaia (Centro de Treinos e Estádio do Olival, para futebol), o F.C.Porto passou a ser, mais do que um clube do concelho do Porto, um clube do Grande Porto, da imensa metrópole cujo coração é o Porto. Um clube do grande Porto para o País e o Mundo.
Estas profundas mudanças foram dinamizadas pela liderança de Jorge Nuno Pinto da Costa, que assim juntou à riqueza desportiva a riqueza patrimonial, tornando o F.C.Porto no clube mais bem sucedido e mais poderoso a nível nacional e numa potência no contexto europeu e mundial. estariam, seguramente, António Nicolau d'Almeida e José Monteiro da Costa longe de imaginar que assim fosse quando, entre o fim do século XIX e o princípio do século XX, lançaram os caboucos do Football Club do porto.
O que aconteceu, o que fez e ganhou o F.C.Porto desde os primórdios até hoje é o que se demonstra num resumo histórico dividido por décadas e com dois períodos bem distintos: antes de Jorge Nuno Pinto da Costa e com o presidente mais bem sucedido da colectividade azul e branca e do desporto português.

Biografia

Jorge Nuno Pinto da Costa Costa nasceu no Porto, fruto do casamento de José Alexandrino Teixeira da Costa com Maria Elisa Bessa Lima de Amorim Pinto, que acabariam por divorciar-se poucos anos depois, nasceram outros quatro filhos: José Eduardo, Maria Alice, António Manuel e Eduarda. Jorge Nuno faz a escola primária no colégio Almeida Garrett, tendo simultaneamente aulas particulares de Inglês e Francês. Aos 10 anos vai estudar para o Instituto Nun'Álvares, mais conhecido por Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso, um colégio jesuíta. De regresso ao Porto, consegue o seu primeiro emprego aos 19 anos no Banco Português do Atlântico, onde foi colega de Artur Santos Silva. É mais ou menos por essa altura que inicia a sua ligação ao FC Porto como dirigente, mantendo contudo o seu emprego no banco e trabalhando mais tarde como vendedor de tintas e resinas, até passar a dedicar-se a tempo inteiro ao dirigismo. Publicou em 2005 a sua autobiografia, Largos Dias Têm Cem Anos, com prefácio de Lennart Johasson, presidente da UEFA entre 1990 e 2007. Dedicou-se a lutar pelo Futebol Clube do Porto.

 De adepto a director

É por influência do tio Armando Pinto, entusiasta de futebol que fora presidente do Famalicão, que Jorge Nuno Pinto da Costa começa a interessar-se por futebol. É o tio quem paga os ingressos do F.C.Porto x Sporting de Braga, o primeiro jogo a que Jorge Nuno, com 8 anos, assiste no Campo da Constituição, na companhia do seu irmão José Eduardo. Desde então não mais se desligou do clube, nem mesmo quando se encontrava longe do Porto, procurando sempre que possível ouvir o relato das partidas. Quando completa 16 anos, em Dezembro de 1953, a avó materna inscreve-o como sócio do F.C.Porto.
Após o regresso ao Porto, Jorge Nuno acompanha religiosamente os jogos do clube, sobretudo de futebol e hóquei em patins. Com cerca de 20 anos, é convidado pelo responsável pela secção de hóquei em patins para ocupar o lugar de vogal, e aceita. Em 1962 passaria a chefe de secção, cargo que viria a acumular com o de chefe da secção de hóquei em campo. Em 1967 passa a ser também chefe da secção de boxe, onde conhece Reinaldo Teles, na altura atleta da modalidade.
Em 1969, é convidado por Afonso Pinto de Magalhães a integrar a sua lista para as eleições desse ano como director das modalidades amadoras. Assim, Pinto da Costa assume pela primeira vez um cargo eleito no FC Porto, de 1969 a 1971. No final desse período, apesar de ter sido convidado por Américo de Sá a candidatar-se com ele, recusou o convite por considerar que o novo candidato deveria apresentar-se às urnas com uma lista totalmente renovada.
Em 1976, em conversa com um grupo de amigos e apesar de não se encontrar a desempenhar funções no FC Porto, alguns deles - boavisteiros - provocavam Pinto da Costa por o seu clube ter deixado que o futebolista Amarildo, praticamente contratado, "fugisse" para o Boavista Em resposta, Pinto da Costa disse apenas que "largos dias têm cem anos", decidindo nesse preciso momento - soube-se mais tarde, aquando da publicação da sua autobiografia - regressar ao dirigismo desportivo. Conversou com o presidente Américo de Sá e comprometeu-se a fazer parte da sua lista nas eleições seguintes como director do departamento de futebol.
Ainda antes das eleições, acertou com José Maria Pedroto, treinador do Boavista, o seu regresso ao FC Porto, onde já havia sido jogador e treinador. Em Maio desse mesmo ano, Pinto da Costa volta a ser dirigente do FC Porto. É com Américo de Sá como presidente, Pinto da Costa como director do futebol e Pedroto como treinador que o FC Porto consegue quebrar, em 1977-78, o jejum de 19 anos sem vencer um campeonato nacional. Apesar disso, o final da década de 70 é um período conturbado para o FC Porto, e Pinto da Costa e Pedroto acabam por deixar o clube em 1980.

 A Presidência

Em Dezembro de 1981 as coisas continuam a correr mal ao FC Porto, e é então que um grupo de sócios se une com o objectivo de convencer Pinto da Costa a candidatar-se à presidência do clube. O "sim" demora a surgir, mas perante a insistência dos sócios Pinto da Costa acaba por aceitar, convidando Pedroto para voltar a treinar a equipa principal. Candidatando-se em lista única, Jorge Nuno Pinto da Costa vence as eleições de 17 de Abril de 1982, tornando-se o 33º presidente do FC Porto.
No mesmo ano, o hóquei em patins do clube, que não havia vencido qualquer título desde a sua implementação em 1955, vence a Taça das Taças, arrancando para um período de ouro que se prolonga até aos dias de hoje. Em 1984, o FC Porto chega à sua primeira final Europeia de futebol, na Taça das taças, contra a Juventus, da qual sai derrotado por 2-1. Em 1987 vence a Taça dos Clubes Campeões Europeus e a Taça Intercontinental, e depois a Supertaça Europeia relativa à mesma época, já no início de 1988. A década de 90 seria gloriosa para o futebol portista graças à conquista de oito campeonatos, cinco deles consecutivamente - o Penta, feito inédito no futebol português. Já no século XXI o clube azul e branco aumentaria o seu palmarés internacional, vencendo a Taça UEFA em 2003 e a Liga dos Campeões em 2004 sob o comando de José Mourinho e a Taça Intercontinental do mesmo ano já com Victor Fernandez. No ano de 2009 conquista o segundo tetracampeonato da sua presidência e da história do clube, com a equipa sob o comando de Jesualdo Ferreira.
  
Feitos Importantes
  • Inserção de publicidade nas camisolas do FC Porto, sendo o primeiro clube português a fazê-lo, em 1983
  • Criação da Loja Azul, em 1983, hoje uma cadeia de lojas
  • Criação da Revista Dragões em Abril de 1985
  • Criação dos prémios Dragão de Ouro em 1986
  • Rebaixamento do relvado do Estádio das Antas, aumentando a capacidade das bancadas para 90.000 espectadores, em 1986 (o posterior encadeiramento das bancadas, nos anos 90, voltaria a reduzir a lotação do estádio para 50.000)
  • Criação da secção de desporto adaptado em 1986
  • Criação da FC Porto, Futebol, SAD, e da FC Porto, Basquetebol, SAD, em 1997
  • Construção do Estádio do Dragão, inaugurado em 2003
  • Remodelação do Campo da Constituição (agora denominado Vitalis Park)
  • Construção do Dragão Caixa, inaugurado em 2009.
BARBOSA, Alfredo. Dragão Ano 111 - História Oficial do Futebol Clube do Porto. Porto: O Comércio do Porto. 2004.COSTA, Jorge Nuno Pinto da. Largos Dias Têm Cem Anos. Lisboa: Ideias & Rumos. 2004.